segunda-feira, 15 de agosto de 2011

O meu contributo de mil milhões de euros

Devido a uma feliz coincidência, esta semana ocorreu-me uma forma de poupar a Portugal mil milhões de euros, sei que é coisa pouca, mas, se mais uma centena de portugueses tiverem a sorte de serem bafejados com a minha musa económica, em breve dispensaríamos a nossa troika a outro país mais necessitado. A feliz coincidência a que me refiro, são factos ocorridos com uma pessoa minha conhecida e outro passado comigo próprio, ambos relacionados com correio registado oriundo de entidades públicas, cumpridoras dos deveres legais a que estão obrigadas.

I
Paradoxo legal

Uma destas semanas, uma pessoa minha amiga tem um aviso na caixa do correio para se dirigir aos CTT onde a espera uma Carta Registada com Aviso de Recepção do Tribunal de Família. No dia seguinte recolhe a dita carta assinando o Aviso de Recepção. Tudo normal conforme esperava.

Esta semana tem mais um aviso para se dirigir aos CTT a fim de receber uma nova carta do mesmo Tribunal. Tira mais uns minutos à sua parca hora de almoço para recolher a Carta Registada onde é informada que dias antes tinha recepcionado o Tribunal de Família o seu Aviso de Recepção da carta anterior, considerando-se desta forma notificada.

Para uma instituição que se queixa de falta de recursos humanos e financeiros, não deixa de parecer estranha esta segunda carta registada, para além dum desperdício de recursos económicos e de produtividade nacional.

Mas a semana apenas tinha começado, no dia seguinte fui eu notificado para me dirigir aos CTT e recolher a minha Carta Registada.

II
Coisas de rico

Trabalho por conta própria, a alguns quilómetros da minha residência, pelo que no dia seguinte em vez de estar no escritório pelas 9:00 h, a essa hora recolhi a senha nº 26 da estação dos CTT, aguardando 45 mn para receber a minha Carta Registada do Instituto de Seguros de Portugal (ISP), de que junto a carta modelo retirada do site deste instituto e a folha encartada no mesmo envelope com logótipo da COFIDIS e da ACM Seguros.



Efectivamente, há cerca de 10 anos fui cliente da COFIDIS, não o sendo actualmente, pensei danado enquanto viajava atrasado uma hora e meia para o meu escritório onde tinha trabalho realmente importante à minha espera. O tempo que me fizeram perder com esta informação sem importância digna de tal. Foi então que me lembrei da carta do Tribunal da minha amiga. Foi então que me lembrei que a COFIDIS teria muitos clientes, ocorrendo-me a facilidade com que organismos públicos, em tempos de crise, nos fazem perder produtividade, gastam o nosso dinheiro e nos indispõem com os seus vícios de meninos ricos. Confesso que durante o resto da semana muita vez me assaltou a indignidade da fila de espera que me fizeram ocupar, os meus pensamentos divagaram em torno desta carta/relatório que me prometi escrever. Este fim-de-semana prolongado, tirei uns minutos para me dedicar às contas generosas que abaixo apresentarei.

As COFIDIS Portugal, segundo o site, tem mais de 300.000 clientes, e eu até já nem sou há mais de 10 anos.



Não é a primeira transferência de carteiras de seguros inter-companhias a que assisto, relembro a última em que a Lusitânia - Companhia de Seguros, SA adquiriu a carteira da Real Seguros, SA, na qualidade de cliente, apenas recebi uma simples carta enviada por correio normal, informando da transferência da responsabilidade da minha apólice de seguro para a nova companhia, não me fazendo perder tempo com Registos e filas de correio. Esta informação obrigatória legal e moralmente, foi feita da forma mais económica e racional possível, e sem a presença do ISP, segundo me recordo.
Não entendo pois, a despropositada carta do ISP, mesmo com o eventual patrocínio do encarte publicitário da COFIDIS e ACM Seguros, que para além dos colossais custos de envio através de Carta Registada em Mão, potencialmente, fizeram perder em média, vou ser mais uma vez generoso, meia hora de tempo a cada notificado, que recordo no mínimo teremos sido 300.000, afectando certamente a produtividade nacional em 150.000 horas. Por acaso gostaria de ter acesso aos números reais das cartas expedidas, mas isso seria ambição demasiada.

Vou deixar-me de lamechices de lerdo, e passo a apresentar o quadro simplista, representando os custos estimados por mim desta operação, e de quanto poderíamos ter poupado.



Assusta mesmo um parvo como eu que não entende nada de leis nem de economia, e um parvo assustado, perdido, raciocina sem parar:

“Se existirem nas instituições nacionais 500 operações deste género (suspeito que existem muitas mais), em que se consiga evitar despesas supérfluas com envio de correio desnecessariamente registado, poupar-se-iam cerca de mil milhões de euros ao país, não afectando a produtividade nem o humor nacional.”

III
Golpe publicitário aproveitando ISP distraído?

Mesmo colocando a hipótese de serem as seguradoras interessadas a suportar os custos com envelopagem e correio, que faz o nome da mediadora COFIDIS nesta operação? Quando da fusão da Lusitânia com a Real, o meu mediador não era citado nas cartas, nem tão pouco estas eram acompanhadas de qualquer encarte publicitário deste.

Mesmo menosprezando o valor com os custos directos desta operação, há um custo que não foi considerado: 300.000 (ou mais) pessoas nas filas das estações de correios. Que custos imputaremos à improdutividade causada? A quem?

E as pessoas que para receberem publicidade, são notificadas via postal por uma instituição pública credível, a pretexto de uma informação de valor inestimável e urgente, como se sentirão? Defraudadas como eu, certamente.
Como empresário, fica-me uma ideia para um futuro golpe publicitário, talvez consiga seduzir o Instituto da Segurança Social ou quiçá o Banco de Portugal a enviar carta registada a todos os cidadãos, com um encarte publicitário do meu negócio.
Com sorte, talvez consiga mesmo que coloquem na página inicial dos seus sites uma referência em destaque ao meu escritório, como no caso do ISP.

Premente,
Zé Berra
Portugal, 2011-08-14